O elo vital e vulnerável da logística
O motofrete é hoje indispensável para a logística urbana. Em grandes centros, ele garante velocidade, flexibilidade e custo reduzido. Entretanto, esse mesmo modelo traz consigo um ponto crítico de vulnerabilidade: os altos índices de acidentes e a exposição jurídica que recai sobre as empresas. A legislação brasileira é clara ao classificar a atividade como de risco. Isso significa que, em caso de acidente, o empregador pode ser responsabilizado de forma objetiva, ou seja, independentemente de culpa.
Na prática, mesmo empresas que investem em políticas de segurança, equipamentos e orientações formais continuam sendo responsabilizadas judicialmente. A jurisprudência dos tribunais trabalhistas confirma essa tendência: basta existir o nexo entre o acidente e a atividade de entrega para que surja o dever de indenizar.
O impacto direto na gestão e nos resultados
Por que esse tema deve estar na pauta da alta gestão? Porque os efeitos de um acidente não se limitam ao aspecto humano, embora este seja o mais grave. Há consequências financeiras e estratégicas que comprometem diretamente a sustentabilidade do negócio.
• Passivos trabalhistas milionários: ações de indenização por acidentes fatais ou incapacitantes podem comprometer a saúde financeira da empresa por anos.
• Ações regressivas do INSS: quando o Estado assume os custos previdenciários do trabalhador acidentado, pode cobrar esses valores de volta da empresa.
• Multas administrativas: descumprimento de normas específicas para motofrete, como falta de EPIs adequados, pode gerar autuações adicionais.
• Reputação abalada: um acidente grave ou fatal envolvendo motofretistas ganha espaço na imprensa e nas redes sociais, causando prejuízos que vão além do financeiro e atingem a imagem da marca.
Esses fatores explicam por que tratar o motofrete apenas como despesa operacional é uma visão míope. O verdadeiro desafio é encarar o tema como parte integrante da estratégia de gestão de riscos corporativos.
Da despesa ao investimento: a gestão de riscos aplicada ao motofrete
Empresas que se limitam a contratar motofretistas e esperar que “tudo corra bem” permanecem em posição vulnerável. Já aquelas que estruturam um programa consistente de gestão de riscos conseguem transformar uma obrigação em diferencial competitivo.
Essa mudança de mentalidade exige práticas sólidas e documentadas, que comprovem diligência e responsabilidade:
• Treinamento formal e registros documentados: cada orientação precisa estar registrada. Não basta entregar o capacete, é necessário comprovar que o trabalhador foi instruído sobre seu uso.
• Regulamentos claros de conduta e segurança: normas internas e contratos de trabalho bem elaborados delimitam obrigações e ajudam a reduzir a responsabilização da empresa em caso de descumprimento.
• Seguros adicionais: a contratação de seguros de vida, invalidez e acidentes pessoais amplia a proteção tanto para o trabalhador quanto para a empresa, mitigando condenações judiciais.
• Protocolos de resposta imediata: diante de um acidente, agir rápido faz a diferença. Coletar boletins de ocorrência, imagens, depoimentos e acionar o seguro são medidas que fortalecem a defesa futura.
Essas práticas não eliminam totalmente a responsabilidade, mas reduzem seu impacto e demonstram ao mercado e à Justiça que a empresa trata o tema com seriedade.
O que está realmente em jogo
Na atividade de motofrete, o acidente não é uma possibilidade remota: é uma certeza estatística. O que pode variar é o tamanho do impacto sobre a empresa. O acidente em si é inevitável. Já o colapso financeiro ou reputacional, não.
A gestão de riscos, nesse contexto, deixa de ser um luxo ou uma formalidade burocrática e se torna elemento central da sustentabilidade empresarial. Ignorar esse ponto pode significar comprometer a operação inteira por conta de uma condenação trabalhista.
Conclusão: competitividade depende de resiliência
Na logística, a velocidade de entrega é um diferencial. Mas, no longo prazo, o verdadeiro diferencial competitivo está em garantir que a empresa continue de pé mesmo quando o inesperado acontece.
Empresas que estruturam sua gestão de riscos não apenas reduzem passivos. Elas também protegem sua imagem, fortalecem relações com clientes e investidores e constroem uma operação mais resiliente.
No motofrete, o risco é inevitável. Mas sua empresa pode escolher entre ser refém do imprevisto ou estar preparada para sobreviver a ele.
